segunda-feira, 18 de abril de 2011

Entre a espada e a parede.

Ok, é o seguinte, o que se vem a seguir deve ser do mais bizarro que já escrevi. Simplesmente comecei a desenvolver a história na cabeça depois de ler algo no jornal, originalmente é muito maior mas não me apeteceu estender demasiado, portanto ficou só assim.



O cenário era algo surreal. Se ele não o tivesse visto com os seus próprios olhos, pensaria que estava a viver um qualquer filme de Hollywood, daqueles filmes que passam nas madrugadas dos canais generalistas. A escola estava envolvida num manto silencioso que só adensava a atmosfera de filme de terror. O jovem polícia recordou os seus próprios tempos do secundário e dos jogos que jogou, enquanto avançava, de arma em punho, lembrava-se que esta era a parte em que abria uma porta e algo bizarro, nunca antes visto aparecia à sua frente. Foi o que aconteceu. Na sala, onde antes um jovem motivado por razões desconhecidas se decidiu fechar e fazer dos alunos presentes reféns, o silêncio era fustigado por um gotejar do sangue a quem aquele jovem decidiu roubar a vida. E pelo som de uma respiração. Uma respiração violenta, como a de alguém que lutava contra os seus próprios princípios. Pouco a pouco, fazendo sinal aos seus colegas, o jovem polícia avançou. Não sabia o que esperar. Será que, como no filme de terror, do canto da sala, por trás da secretária estaria algo irreal à sua espera? Ficou petrificado com o que viu. Um rapaz, provavelmente com os seus 18 anos, segurava na arma que pertencia ao tal jovem que, por razões desconhecidas, tinha decidido cometer aquela atrocidade. À sua frente estava o corpo do tal jovem. Era notório que tinha sido baleado duas vezes no estômago e uma no peito. Provavelmente não teria sofrido muito e teria tido morte imediata, mas isso não lhe competia ele julgar. Ao aperceber-se da presença dos polícias o rapaz pousou a arma no chão e levantou-se, sem pestanejar.
- O que se passou? - perguntou o jovem policia, já na esquadra.
- Entre a espada e a parede. Foi nessa situação que ele me meteu. Então eu passei por ele. Sabe, eu conhecia. A ele, digo. Não sei se você se deu ao trabalho de investigar, mas eu poupo-lhe o trabalho. Era meu meio irmão. Somos filhos da mesma mãe mas de pais diferentes. Eu sou mais novo do que ele. Nasci depois. Quando eu nasci, a minha mãe morreu. Ela teve de escolher: se eu nascesse, ela morria. Podiam ter feito a coisa ao contrário. Mas não. Ela preferiu morrer. Desde esse dia, ele nunca me perdoou. Nunca fomos muito amigos. Devemos ser os meios irmãos mais impessoais de sempre. É como se não pertencêssemos ao mesmo mundo. Eu sempre soube que ele me odiava. Sempre. No entanto, sempre sorri para ele. Tinha esperança que, um dia, as coisas mudassem. Um dia, enquanto ainda éramos novos, de noite, ele tentou matar-me. Tentou asfixiar-me. O pai dele viu tudo e expulsou-o de casa. Lembro-me bem ainda hoje da enorme quantidade de vezes que ele gritou "ele nem sequer é teu filho, o teu filho sou eu!". Ele começou a tomar drogas, tornou-se mais uma sombra. Meteu-se com más companhias, fez assaltos. Hoje, ele decidiu por fim à sua vida. Entrou pela escola e disse-me que hoje morria. E eu morria também. Aquelas pessoas que você viu mortas, tudo começou porque tentaram impedi-lo. Quando ele disparou sobre uma, ganhou gosto à coisa, sabe. Não parou. Disse que queria que eu visse todos os meus amigos a morrerem, sem ser capaz de fazer nada. Nunca me senti tão fraco na minha vida e, quando dei por mim, chorava compulsivamente. Até que ele chegou perto de mim e eu fiquei encostado à parede. Durante a minha vida, tudo o que fiz foi chorar. Quando jogava futebol e caia, eu chorava. Quando tirava uma má nota, eu chorava. Quando o meu cão morreu, eu chorei. Quando fui assaltado, eu chorei. Foi quando, sem saber como, lhe consegui tirar a arma e disparei. Fechei os olhos e disparei. Enquanto disparava pedi a mim próprio para, por favor, o matar. Desejei mata-lo. Matei-o e fi-lo porque quis. Não me arrependo. Se tenho algum momento da minha vida em que tenho de me arrepender, foi o momento em que nasci, visto que foi o momento que tudo isto nasceu também. Fui eu que lhe estraguei a vida, portanto parece que o destino queria que fosse também eu a por-lhe um termo. - relatou o jovem sem pestanejar.
O jovem polícia não respondeu. Estava demasiado chocado pelo que tinha acabado de ouvir. Levantou-se e encaminhou o rapaz para a sua cela. Iria ser julgado na manhã seguinte. Afinal, tinha morto uma pessoa.
Durante a noite o jovem policia aproximou-se da cela do rapaz e abriu-a.
- Vai te embora. - disse.
- Porquê? - perguntou o rapaz, sem sabendo como reagir perante aquela situação.
- Se não te fores embora, irás acabar preso. Eu sou relativamente novo aqui, mas em todos os outros sítios onde trabalhei já vi casos semelhantes. Fico surpreendido como coisas destas ainda continuam a acontecer. Nunca fiz nada quanto a isso. Todos acabaram por ir presos, a meus olhos, de forma injusta. Eu nunca fiz nada. Hoje, lembrei-me do quão fraco me senti em todos os momentos e, sinceramente, não quero voltar a ter essa sensação. Não é o trabalho de um polícia fazer justiça? Então que seja. És novo. Tens de ter esperança e acreditar em ti. Se não acreditares em ti, acredita em mim, alguém que acredita em ti.
O rapaz esboçou um sorriso e saiu.
O polícia foi preso pelo seu acto e suspenso dos seus deveres, acabando por mais tarde se demitir. Afinal, não faria sentido ser polícia, se não podia fazer justiça, certo?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A metáfora que nos une

Não tenho escrito nada de especial, estou à espera do resultado de algo que, para mim, é ligeiramente importante, portanto não me consigo sequer concentrar. No entanto, saiu isto.

A metáfora que nos une
É a mesma que nos separa
Tornando aquela chuva
Numa proeza rara
Equilibrando o calor e o frio
Devolvendo a matéria ao espaço vazio
Mas é uma metáfora incessante
Que exige pedaços de nós
Consumindo-nos, pouco a pouco
Sem parar
Até não haver por onde pegar
Até só nos restarem os olhos
Para podermos observar a nossa miséria
E nós iremos olhar
E iremos pensar
"Valeu a pena".